Dia de Natal




Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)

Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica...
.
António Gedeão
P.s. Um bom Natal especialmente para estas pessoas que me cruzei por mero acaso na vida, mas que não consigo esquece-las... Que o ano 2010 vos torne a vida mais fácil!













Esta é sem dúvida, a melhor coisa que sei fazer na vida:
observar e ver a vida passar, sem nunca fazer nada para a agarrar!
Desculpa! A vida "embruteceu-me"!
Acomodei-me, já não consigo ter mais forças para lutar pelo quer que seja....
Esposende 12-12-09
...Seja o que for, era melhor não ter nascido, porque, de tão interessante que é a todos os momentos, a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar gritos...
Photo by Sofia Carvalho
Poema: álvaro de Campos

música ou performance? eis a questão por Teresa Vila Verde















DesnudARTE dessa forma é arte, amiga!
Para além de me teres feito chorar, fizeste-me recordar nas tuas palavras,
os medos, os sonhos que vivi.
Despires-te dessa forma à frente do público, fez de ti, não uma pessoa vulnerável,
mas sim a tal "menina pequenina maior que conheci".
Preciso de ti amiga para me ensinares a não perder a capacidade de sonhar...



"Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.

Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,

Pagã triste e com flores no regaço. "


Ricardo Reis -
Há dias em que tenho uma espécie de nevoeiro à minha volta que me impede de sentir e ver claramente as coisas...

Nove e meia


São nove da manhã. Caminho só pelas ruas de Vidago. Por mais que o tempo passe, e por mais experiências que vá vivendo, continuo a sentir que nada na vida me dá tanta liberdade como caminhar à chuva, sentir o vento no corpo e caminhar sob as folhas secas que o vento amontoou na berma dos passeios...
A densa neblina ao longe confunde-se com pedaços de algodão...
São nove e meia! Está na hora...
Tenho que me ir embora!
sei que estás à minha espera...