Trasparencias


Pintor


Depois de andar horas
Finalmente vi uma luz ténue
No fundo do túnel onde me
Encontrava.
Aproximei-me devagar
E vi dois enormes gigantes
Que se transformaram em arcos
Dando-me passagem
Para um mundo desconhecido.
Vi as coisas mais belas
Que jamais alguém viu, mas…
Senti-me só.
Então, de repente apareceu
Um pintor que me pintou num quadro.
O esboço ganhou vida: Era eu!
Estranho quadro, estranho “Eu”!
Pintou-me mais uma vez, outra
E mais outra,
E surgiram mais:
- Ena! Tantos “Eus”…
Já não estava só,
Mas perdi-me no meio de mim,
Pois já não sabia
Se era eu, aquela ou a outra que era eu
(éramos todas iguais).
Cansei-me daquela gente estranha,
Demasiada complicada
Demasiado”eu”.

Fugi desse mundo
E isolei-me no meu mundo
Vazio e solitário…mas
Com o decorrer dos anos
Voltei a sentir-me só.
Então de repente apareceu
O velho pintor
Que me pintou num quadro
O esboço ganhou vida: Era Eu.
Estranho quadro, estranho Eu!

Sofia Carvalho
* Poema publicado na revista”NU”

Livros da minha adolescência




Pensar na minha adolescência implica obrigatoriamente pensar nos livros da Enid Blyton. andávamos sempre de "mãos dadas". Mesmo quando me obrigavam a fechar-me no quarto para estudar, lá iam estes livros no meio dos livros de estudo. Assim passava horas intermináveis a "estudar " os cinco e os sete nas tardes de inverno onde não havia mais nada que fazer...


Comprei estes dois exemplares no sábado passado numa feira de antiguidades. Será escusado dizer que senti que comprei uma relíquia, porque mais que dois livros usados , acabei de "comprar" uma parte do meu passado...

Desventuras bucólicas




Lá na aldeia dizia-se que era um perigo para as raparigas irem passear para os campos de milho
porque o "mal" e o "pecado" andavam à espreita por aquelas bandas
Balelas, dizia eu
Será?!
Hummm ...
Estava eu e a minha amiga de longa data num bucólico passeio pelas terras verdejantes do Verde Minho, tentando encontrar os lugares da nossa infância, procurando um refúgio para uma conversa mais íntima, para uma partilha de segredos e degredos da vida, quando.....tcham, tcham, tcham......

Alguém nos espreita e mede a presença
"Que estão aquelas moçoilas aqui a fazer? Quem serão? Humm..."
Após sabe-se lá que pensamentos, lá se decide aproximar das moças e a conversa surge
Desvenda-se o mistério
"É apenas a filha do Daniel e do Doutor?! Há tantos anos que não as via
Tava eu em casa quando vi duas damas a passar. Disse prá minha mulher, olha, vou pró campo regar o milho. Mas é melhor vires lá ter comigo depressa".
(É que um hóme é sempre um hóme)
Minutos depois apareceu a mulher (não fosse o diabo tecê-las) e
após as devidas apresentações lá o levou com ela
Será que não há privacidade em lado nenhum?
O BigBrother, a video-vigilância e sei lá mais o quê, já chegou aos campos de milho?
Não podemos fumar um cigarrito à vontade?
Não podemos perder-nos num fim do Mundo qualquer só pelo prazer de estarmos PERDIDAS e DESNORTEADAS por alguns minutos?
Ou ter uma conversa mais mais mais mais...
(imaginem o que quiserem. A perversidade está na vossa imaginação não na minha)

A infância numa aldeia minhota durante os anos 80 era garantia de mitos, ladainhas, sermões, histórias do fim do mundo e de milagres . O real misturava-se com o sobrenatural
Com muita naturalidade

Entretanto crescemos
Acabaram-se os monstros
Mas também acabou-se o Pai Natal....


Ginha no País das Maravilhas (
http://teresavilaverde.blogspot.com/)

O vestido que nos fica a Matar!


Hoje vi-te na rua. lá estavas tu com aquele teu olhar meio ausente, meio perdido como quem não quer grandes intimidades com o mundo. Trazias aquele vestido que te fica a MATAR...Aquele que sempre vestes quando estás de mal com a vida...

Às vezes acho que exageras na forma pessimista como vês o mundo, mas hoje( devido às circuntâncias) mais do que nunca compreendo-te. Amanhã gostava que me emprestasses o teu vestido, porque tal como tu, também ele me fica a MATAR...
Tal como tu, hoje, não consigo deixar de sentir que o mundo me deve umas quantas coisas, é só isso!

Incoerência?!?


Começo finalmente a conhecer-me e a entender-me. Estou a meio de um processo de evolução. Já não consigo apanhar daquelas "borracheiras" inconscientes, tenho sempre uma certa sobriedade na minha embriaguez, seja ela provocada pelo álcool, por um bom poema, um bom livro ou uma grande foto.

Acho-me patética quando entro em crises existenciais e começo a afastar-me de tudo e todos aqueles q me obrigam a "pensar".

Recuso-me a entrar novamente nesse ciclo vicioso do existencialismo onde tudo é questionado e nada concreto.
Resumindo e concluindo: estou a ficar sem paranóias, estável, segura e madura...
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Raios, qualquer dia caio podre de tão madura!!!

Aqui jazz...


Small trio em actuação na velha-a-branca(Braga)no passada sexta dia 4 de julho de 2009! fica aqui uma pequena homenagem a este trio fantástico, principalemte ao meu amigo CARL MINNEMANN(contrabaixista)...

s/t


Que nada nos limite. Que nada nos defina. Que nada nos sujeite.
Que a liberdade seja a nossa própria substância."

Simone de Beauvoir