viro-me para a terra alegre dos sonhos

                                                  invento uma lua, um inverno só para mim

(...)

... al berto

p.s. E assim me despeço de 2011 com os votos de um Bom Ano para todos os meus amigos!


tivemos uma história mas a história foi-se, em fileiras angélicas e
gratas, a fazer a manhã de outras paragens; outra sombra,
outros olhos semelhantes (...)

agora posso sonhar até deixar de te ver
... belo rio sem lágrimas
Mário Cesariny
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo....

Fernando Pessoa
                               as dores ligeiras exprimem-se; as grandes dores são mudas...
                                                                    séneca
quando o teu corpo está ausente pergunto-me que caos terrível irromperá de mim. em que lugar destas terras, desta aridez da alma, terei a possibilidade de morrer por enjoo de tud
(...)

[o anjo mudo - al berto]

A minha 25ª foto no Fineart com publicação na "O mundo da Fotografia Digital" nº79 de Nov/2011

Foto publicada na Revista "O mundo da Fotografia Digital" nº79 de Novembro 2011
Na página 84 é a nº 6 das dez melhores fotos selecionadas no passatempo "Missão-Retrato"



(a minha 25ª foto no Fineart)

'se todos fizéssemos um pouco de silêncio, certamente havíamos de ouvir alguma coisa'
"a voz da lua" últimas palavras do último filme de federico fellini
.

Uma viagem ao interior de "nós"...


Uma viagem ao interior de “nós”

Há dias assim.... perfeitos
Ontem foi assim...

Mulheres agora inteiras
decidimos recuar no tempo
sôfregas por nos intoxicar
(lentamente, muito lentamente...)
com os cheiros de infância,
presentes ainda neste lugar da nossa memória

recolher o sabor, o cheiro, a magia
deste afecto
que é eterno
que nos deu identidade
que nos deu inteireza
que nos deu o maravilhoso
de ser o que somos hoje,

respirar este lugar
vinte anos depois
significa encontrar
...o certo
...o bom
após tantas lágrimas de sangue.

há um elo
uma compreensão
para além do explicável
que nos une
que vem deste espaço
desta memória
destas teias
deste pó

há lugares mágicos...

que sorte tivemos
e que sorte temos S.



ginha, 12/Setembro/2011

Auto Retrato


tenho o olhar preso aos ângulos escuros da casa
tento descobrir um cruzar de linhas misteriosas, e
com elas quero construir um templo em forma de ilha
ou de mãos disponíveis para o amor...

(...)
 Al Berto
( a minha 26ª foto no fineart)

..........


‎..."O mais desagradável é que sofro realmente da nostalgia de qualquer coisa"...
Fiódor Dostoievsky in "crime e castigo"
não creio que cristo seja filho de deus porque não sou crente. mas creio que cristo é divino: creio que nele a humanidade é tão alta, rigorosa e ideal que vai para além dos termos comuns da humanidade.

[pier paolo pasolini a propósito de il vangelo secondo matteo]


nestas deambulações, ceguei para o mundo
já não encontro espaço nele para a lucidez do meu silêncio...

Al Berto

a verdade como o silêncio, existe apenas onde não estou. o silêncio existe por trás das palavras que se animam no meu interior, que se combatem, se destroem e que, nessa luta, abrem rasgões de sangue dentro de mim. quando paro de pensar e me fixo, por exemplo, nas ruínas de uma casa, há vento que agita as pedras abandonadas desse lugar, há vento que traz sons distantes e, então, o silêncio existe nos meus pensamentos. intocado e intocável. quando volto aos meus pensamentos, o silêncio regressa a essa casa morta. é também aí, nessa ausência de mim, que existe a verdade. (...)


José Luis Peixoto in "'cemitério de pianos'

P.s. sinto a tua falta Sandra!

morrer
é uma arte, como outra coisa qualquer.
e eu executo-a excepcionalmente bem.
executo-a de forma a parecer-se com o inferno.
executo-a de forma a parecer real.
acho que se podia dizer que tenho um dom.


é bastante fácil executá-la numa cela.
é bastante fácil executá-la e ficar como se nada fosse.
é cena de teatro
regressar em pleno dia
ao mesmo lugar, ao mesmo rosto, ao mesmo brutal
e divertido grito:
um milagre!
que me põe k.o.

há que pagar.

para ver as minhas cicatrizes, há que pagar
para ouvir o meu coração —
é assim mesmo.

(...)

'a senhora lázaro', sylvia plath



Auto Retrato

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.


Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda

Maria Teresa Horta
e nunca me disseram o nome daquele oceano
....esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
...
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade ...

Al Berto


O dia deu em Chuvoso


O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.


Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.

Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.

Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso....

Álvaro de Campos 



Pensamentos...


Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

...Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre...

Fernando Pessoa