Pintor


Depois de andar horas
Finalmente vi uma luz ténue
No fundo do túnel onde me
Encontrava.
Aproximei-me devagar
E vi dois enormes gigantes
Que se transformaram em arcos
Dando-me passagem
Para um mundo desconhecido.
Vi as coisas mais belas
Que jamais alguém viu, mas…
Senti-me só.
Então, de repente apareceu
Um pintor que me pintou num quadro.
O esboço ganhou vida: Era eu!
Estranho quadro, estranho “Eu”!
Pintou-me mais uma vez, outra
E mais outra,
E surgiram mais:
- Ena! Tantos “Eus”…
Já não estava só,
Mas perdi-me no meio de mim,
Pois já não sabia
Se era eu, aquela ou a outra que era eu
(éramos todas iguais).
Cansei-me daquela gente estranha,
Demasiada complicada
Demasiado”eu”.

Fugi desse mundo
E isolei-me no meu mundo
Vazio e solitário…mas
Com o decorrer dos anos
Voltei a sentir-me só.
Então de repente apareceu
O velho pintor
Que me pintou num quadro
O esboço ganhou vida: Era Eu.
Estranho quadro, estranho Eu!

Sofia Carvalho
* Poema publicado na revista”NU”

5 comentários:

  1. Bela montagem fotográfica a condizer com um texto simples mas recheado de palavras e sentimentos, onde te perdes no meio dos teus eu´s para acabares por encontrar o teu próprio eu, como sempre transpondo os teus sentimentos e momentos para o papel, parabéns, beijos.

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  2. Bem Sofia

    Este teu texto é lindo, por não ser capaz de escrever assim é k não poderia ter dado outro nome ao meu blogue :)

    Já estou a gostar de te conhecer e ainda não fomos apresentadas oficialmente...
    Parabéns, até porque o que acabaste de escrever reflecte a ansia de muitas nós, principalmente porque sentimos por diversas vezes um misto de emoções, de sentimentos que nos fazem perder a noção de quem somos.

    Teremos certamente várias coisas a partilhar. Adorei a montagem das fotos.

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  3. Estranho poema; estranho "EU"! Que círculo mais estranho. Cada imagem a tapar outras imagens, revelando um pequeno pormenor de cada "EU". Trabalho interminável, mas necessário!

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  4. Adorei. Simples, belo, curioso. Um circulo sem fim. Parabéns!

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  5. E tudo isto é uma estação onde o 'eu' se estilhaça em mil formas e tempos para que na mesma pele se arquitecte o outro 'eu' - afinal, o mesmo 'eu'.

    Adorei o complexo imagem-texto.

    :)

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