A minha Aldeia




Foi na minha Aldeia, muito antes de aprender as estações do ano, que aprendi a sentir quando estava para chegar a Primavera, com o cheiros das flores, o chilrear dos pássaros(que pernoitavam no pessegueiro que ficava mesmo em frente ao meu quarto)que me acordavam de manhã bem cedinho.
Da mesma forma que aprendi a sentir a chegada da Primavera, aprendi a sentir a chegada do Outono, o fim do verão, dos banhos frescos no riacho, dos passeios à tardinha por aquele caminho que me levava para longe do mundo...
Aprendi a sentir o Outono,quando acordava de manhã e olhava o céu, e em vez daquele sol radiante que me aquecia o corpo e alma nas manhãs de Verão, via filas intermináveis de andorinhas nos fios de electricidade preparando-se para mais uma longa viagem, rumo aos países mais quentes.
Foi na minha aldeia, muito antes de entrar para a escola, que aprendi a sentir a vida, o sol, as flores, o chilrear dos pássaros, o som do vento fitando os eucaliptos, a música suave do riacho... que te aprendi a sentir GUERAL, tão linda, tão verde, mas...estranhamente solitária...

Uma mão cheia de nada


Tenho uma mão cheia de coisas que gostaria de ter feito hoje, ( mas como diria Pessoa), o dia deu em chuvoso e a esplanada estava fechada, o banco do jardim molhado e tu não estavas em casa!
Ainda pensei passear-me à chuva, mas está frio e continuo a sentir que a chuva aqui não "bate" da mesma forma que na minha aldeia!

Sem grandes opções sentei-me no "tertúlia", acendi um cigarro e fiquei a olhar a chuva cair lá fora.
Está um lindo dia para se morrer, porque hoje é um daqueles dias que não deixa saudades viver(não que tenha pressa, note-se!)
No meio de toda esta depressão climatérica deste "encharcamento" emocional, gosto de pensar que ainda tenho muito que viver, muito que aprender, só assim consigo suportar hoje a minha mísera existência...
Mais reconfortada com este pensamento, peguei num livro e desfolhei-o...

E eu,que hoje tinha uma mão cheia de coisas que gostaria de ter feito, acabei por ficar com uma mão cheia de coisas que não fiz , tudo isto porque estava a chover
A esplanada estava fechada
O banco estava molhado
e tu não estavas em casa!

(tertúlia 16-04-09)

Recado!


Hoje não estou para ninguém
Quem me quiser falar
que deixe recado na porta do lado!
Se for urgente
Quem me conhece
Sabe onde me procurar!
Mas..hoje não estou para ninguém
Hoje, deixai-me ficar assim:
Longe de tudo mas perto de mim!...

Um afecto não se descreve...sente-se!


Um gesto, um afecto, um olhar, um choro, um sorriso não se descreve...sente-se! Quando muito, pinta-se, fotografa-se, mas nunca, nunca se descreve!
As palavras por vezes deturpam o verdadeiro sentido das coisas!

Afectos tardios


Mais um dia que fiquei a tomar conta de ti! Contrariamente aos outros domingos hoje estás mais calma.
Sentei-me ao pé de ti a ler, sei que não gostas de te sentir só. Mandaste-me pôr um chapéu na cabeça, porque o sol poderia fazer-me mal. Pousei o livro, não fui buscar o chapéu, mas fiquei a olhar para ti! Hoje sinto uma espécie de ternura por ti! Olhei-te mais uma vez tentando fixar na minha memória o teu aspecto. É no silêncio que recordamos as coisas! O teu porte altivo que possuías outrora nada tem a ver com esse porte curvado que hoje apresentas, no entanto hoje possuis um ar doce, meigo que veio substituir o teu ar austero e frio de antigamente.Consigo amar-te mais desta forma...
Sei-te perdida às vezes, e sinto-me perdida por não conseguir ajudar-te a encontrar o teu rumo, mas agora é tarde , já não há nada a fazer, e a gente com tempo habitua-se...
Continuei a olhar-te meia perdida em divagações. Chegaste a cadeira para o pé de mim, agarraste-me na mão e chamaste-me "de minha menina". Imaginas durante quanto tempo na minha vida esperei ouvir isso de ti? Quantas vezes na vida esperei um afecto, um carinho teu para acalmar a raiva, as inseguranças que tinha?!?!...
Ficamos assim as duas de mãos dadas a olhar não sei o quê, enquanto as lágrimas começaram a deslizar lentamente pela minha face. Apercebeste-te disso e apertaste-me ainda mais a minha mão, sorri e disse-te baixinho:
- não te preocupes, mãe, este é um chorar não de raiva ,não de revolta, é um chorar mansinho, daqueles que não dói...É mãe, este chorar é daqueles que não dói....

Desterro


Aqui, neste misérrimo desterro
Onde nem desterrado estou, habito,
Fiel, sem que queira, àquele antigo erro
Pelo qual sou proscrito.
O erro de querer ser igual a alguém
Feliz em suma — quanto a sorte deu
A cada coração o único bem
De ele poder ser seu.

Ricardo Reis

O primeiro domingo sem ti


O primeiro domingo sem ti! É engraçado como como os hábitos se enraizam em nós d tal forma, que nos vemos à "toa" para nos livrar-mos deles!...
Para não quebrar a rotina, e porque o domingo estava a ser uma seca, resolvi ir ao café. Sentei-me, acendi o cigarro e ouço a voz do H.por trás de mim:
-Olá! sózinha?
-Sim, sozinha-respondi eu
-Que vai ser então?
-Um pingo! só um pingo, a dona do café não está cá...fumei, subi a rua até casa da A. Sentia-me insegura! faltavas tu do meu lado a deambular com aquele ar sonhador, a rires-te da vida, ou então, a cantarolar baixinho, como sempre fazes...
É! hoje foi o primeiro domingo sem ti. Sobrevivi:)Não sinto a tua ausência de uma forma negativa, sei-te bem, isso basta-me!