Afectos tardios


Mais um dia que fiquei a tomar conta de ti! Contrariamente aos outros domingos hoje estás mais calma.
Sentei-me ao pé de ti a ler, sei que não gostas de te sentir só. Mandaste-me pôr um chapéu na cabeça, porque o sol poderia fazer-me mal. Pousei o livro, não fui buscar o chapéu, mas fiquei a olhar para ti! Hoje sinto uma espécie de ternura por ti! Olhei-te mais uma vez tentando fixar na minha memória o teu aspecto. É no silêncio que recordamos as coisas! O teu porte altivo que possuías outrora nada tem a ver com esse porte curvado que hoje apresentas, no entanto hoje possuis um ar doce, meigo que veio substituir o teu ar austero e frio de antigamente.Consigo amar-te mais desta forma...
Sei-te perdida às vezes, e sinto-me perdida por não conseguir ajudar-te a encontrar o teu rumo, mas agora é tarde , já não há nada a fazer, e a gente com tempo habitua-se...
Continuei a olhar-te meia perdida em divagações. Chegaste a cadeira para o pé de mim, agarraste-me na mão e chamaste-me "de minha menina". Imaginas durante quanto tempo na minha vida esperei ouvir isso de ti? Quantas vezes na vida esperei um afecto, um carinho teu para acalmar a raiva, as inseguranças que tinha?!?!...
Ficamos assim as duas de mãos dadas a olhar não sei o quê, enquanto as lágrimas começaram a deslizar lentamente pela minha face. Apercebeste-te disso e apertaste-me ainda mais a minha mão, sorri e disse-te baixinho:
- não te preocupes, mãe, este é um chorar não de raiva ,não de revolta, é um chorar mansinho, daqueles que não dói...É mãe, este chorar é daqueles que não dói....

4 comentários:

  1. Fiquei sensibilizado com todo o sentimento que que aqui expoes, fiquei com uma lagrima nos olhos depois de uma leitura atenta em que descreves um momento real que representa muito para ti..Excelente foto a acompanhar o texto em que reconheço as mãos expostas com expressão e sentimento..é disto que deves escrever, bem como do que te vai na alma, do que te revolta....etc...

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  2. Muito bom, Sofia. A foto é uma bela entrada para um texto sensível, triste, mas muito bonito. Ninguém fica insensível perante o que escreveste.
    A leitura obriga-nos a olhar para dentro de nós. Não és só tu que te reencontras. Obrigado.

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  3. Sofia não tenho palavras,o teu recado para uma mãe austera, que agora não o é, sensibilizou-me muito. Como diz o Telmo, as lágrimas vem aos olhos. Fabuloso trabalho, as fotos, dizem tudo Sofia, tudo é uma imensidão de ternura de afecto de amor, que sentem uma pela outra.
    Trabalho a publicar, pensa nisso.
    Gostei muito

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  4. E nada melhor nos reconforta que o toque, a carícia, o calor, o afecto e o Amor de Nossa Mãe =)

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